Leituras que inspiram viagens - Muquém

LEITURAS QUE INSPIRAM VIAGENS - MUQUÉM

Inspire-se a viajar pela literatura - Muquém

A primeira vez que ouvimos falar sobre o Muquém, em Goiás, ficamos impressionados. Uma grande festa, que acontece em agosto, o Muquém é um distrito da cidade de Niquelândia/GO, cidade onde o Giuliano trabalhou por um período. E ele teve a oportunidade de visitá-lo: uma das maiores romarias do Centro-Oeste, que acontece durante dez dias do mês de Agosto e que atrai uma multidão de pessoas todos os anos, vindas de diversos lugares.

Em janeiro de 2020 passamos por lá ao sair de Alto Paraíso de Goiás até Pirenópolis. Visitamos a enorme Igreja de Nossa Senhora da Abadia onde acontecem as celebrações, mas que, no dia quente em que passamos por lá, não tinha ninguém.

Quando estávamos editando o vídeo que fizemos mostrando as estradas entre Alto Paraíso de Goiás e Pirenópolis e fazendo algumas pesquisas sobre a origem da festa, que já sabíamos que era antiga, nós nos deparamos com a obra literária "O Ermitão de Muquém"; romance de Bernardo Guimarães; cuja obra literária mais conhecida é "A Escrava Isaura" , tema de uma famosa Telenovela dos anos 1970.

Foto internet - Amazon

O Ermitão de Muquém foi escrito em 1858 e publicado em 1869. É muito importante para a literatura brasileira, pois é considerado o primeiro romance regionalista sobre o Brasil.

Conta a história de Gonçalo, que após matar seu amigo Reinaldo por causa de uma briga por Maroca, refugiou-se para não acertar as contas com a justiça. Após um período em que vive com a Tribo dos Xavantes, passando a se chamar Itagiba, apaixona-se por Guaraciaba e passa por mais uma tragédia. O milagre de Nossa Senhora Da Abadia, do qual era muito devoto, o recambiou a Muquém, onde tornou-se um ermitão místico, de comportamento medieval. Mais um milagre ocorre, após tantas reviravoltas da história, para a redenção de Gonçalo. O livro narra, como o subtítulo da obra descreve, a "História da Fundação da Romaria de Muquém na Província de Goiás".

Já relatavam os escritos em 1858 -"Lá bem longe, no coração dos desertos, em uma das mais remotas e despovoadas províncias do Império, existe uma das mais notáveis e concorridas dessas romarias, notável, sobretudo, se atendermos ao sítio longínquo e às enormes distâncias que os romeiros têm de percorrer para chegarem ao solitário e triste vale em que se acha erigida a capelinha de Nossa Senhora da Abadia do Muquém na província de Goiás, cerca de oitenta léguas ao norte da capital e a sete léguas da povoação de São José do Tocantins, à margem de um pequeno córrego que tem o significativo nome de Córrego das Lágrimas. Das mais remotas paragens acodem romeiros a essa isolada capelinha para implorar à santa o alívio de seus padecimentos e trazer-lhes preciosas e oferendas. Durante alguns dias do ano aquele lôbrego e escuro sítio transforma-se em uma ruidosa e festiva povoação; o Muquém é sem constestação a romaria mais concorrida e a mais em voga do interior. (...) Ainda que não seja por devoção, mesmo por espírito de curiosidade vale a pena fazer-se essa viagem para ver como aquele lugar completamente desabitado no fundo dos sertões, onde existe uma capelinha e um casebre sem habitantes, converte-se de repente em uma cidade cheia de vida, de rumor e movimento, composta de barracas, toldas, carros-de-bois, e ranchos cobertos de capim. Reúne-se ali todos os anos, na época da festa, uma população de cerca de dez mil pessoas, que vêm de distâncias enormes, até do Pará e Rio Grande do Sul, umas por devoção e para cumprirem promessas, outras para fazerem comércio, pois que nesses dias aquele lugar torna-se uma feira imensa, onde se compra, vende-se e permuta-se toda a qualidade de mercadorias. Aí os sertanejos do norte de Goiás, e das extremas das províncias da Bahia, Pernambuco, Piauí e Maranhão, vão prover-se de fazendas, quinquilharias, ferragens e vinhos que compram aos negociantes de Meia Ponte e Goiás que conduzem daquele ponto as mescadorias. Os romeiros tmabém vendem aos negociantes destas duas cidades, e aos de Minas e São Paulo, grande quantidade de couros, solas, animais cavalares, redes fabricadas pelos índios escravos, ouro em pó e diamantes. (...) Mas todo esse movimento e animação dura apenas de seis a oito dias (...)".

Para podermos nos situar geograficamente, atualmente a cidade de São José do Tocantins passou a se chamar Niquelândia; a cidade de Meia Ponte passou a se chamar Pirenópolis. A capital da Província de Goiás na época era a cidade de Goiás (popularmente conhecida como Goiás Velho) - a atual capital do Estado de Goiás é Goiânia e o norte de Goiás daquela época, hoje é o Estado do Tocantins. Muitas coisas mudaram, mas a festa continua com as mesmas caraterísticas.

A descrição de Bernardo Guimarães ainda se aplica à atualidade - o vilarejo do entorno ainda é bem pequeno, mas durante a festa, pessoas de vários lugares de Goiás e do Brasil vão para lá. Há a parte religiosa, de romaria, pagamento de promessas, celebrações; mas também há a grande quermesse com barracas de roupas, brincadeiras, comidas e muita bebida! Há uma imensa área onde muitas pessoas passam todo o período da festa acampados. Há também uma romaria especial, à cavalo.

Ler é uma viagem!!!

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